Augustinho
e João Teixeira, 11 e 9 anos, são campeões argentinos e, ao lado da
nova safra do país, mostram que a modalidade pode ganhar espaço no
cenário mundial
O
português sai arrastado, muito mais para um "portunhol". Augustinho
Teixeira desce a montanha dominando a prancha de snowboard e, ao chegar à
base da estação de esqui, sua mãe o espera. Nascido ao norte da
Argentina, em Ushuaia, a "Terra do Fogo", o menino de 11 anos é filho de
um hermano com uma baiana de Salvador. Ao lado do irmão João, de 9, ele
é a principal esperança da Confederação Brasileira de Desportos na Neve
(CBDN) para colocar o snowboard masculino do país no mapa-mundi.
Talentosos, os dois são campeões argentinos nas modalidades slopstyle e
big air e, no Campeonato Brasileiro em Corralco, no Chile, mostraram que
a nova geração de atletas do Brasil pode surpreender.
Nova geração do snowboard brasileiro fez bonito em Corralco, no Chile (Foto: Thierry Gozzer)
Augustinho
começou no snowboard aos 7 anos, mas sempre esquiou com a mãe e o pai.
Para se desenvolver no esporte, passou a frequentar as aulas do Clube
Andino, em Ushuaia, onde treina diariamente durante o inverno. Observado
pela CBDN, que não pretende perder o garoto para a Argentina, o
prodígio é monitorado e trabalhado para os próximos anos. A ideia é que o
jovem faça intercâmbios com técnicos americanos e seja preparado para a
Olimpíada de Inverno da Juventude de Lausanne, na Suíça, em 2020.
João e Augustinho nasceram na Argentina e são filhos de uma baiana (Foto: Thierry Gozzer)
-
Não queremos perdê-lo de jeito nenhum. Já conversamos com a mãe dele,
tivemos uma reunião de quase uma hora. Ele é a nossa futura Isabel
Clark, com certeza. Ele e mais tarde o irmão dele. No início, podemos
oferecer toda a nossa experiência para treinos e intercâmbios com os
melhores técnicos dos Estados Unidos, já que o Augustinho chegou no
limite de evolução dele com o técnico que tem hoje. Vamos prepará-lo
para a Olimpíada de Inverno da Juventude e para futuros Jogos Olímpicos
de Inverno - garante Carlos Eduardo Almeida, o Dinho, diretor de
snowboard da CBDN.
Apaixonado pela radicalidade do snowboard,
Augustinho treina inclusive no verão, três vezes por semana. No ano que
vem, ao fazer 12 anos, será federado para seguir competindo na
Argentina, mas a CBDN já pediu que ele não tire a carteirinha da
Federação Internacional de Ski (FIS) pelos hermanos, o que é possível a
partir dos 13 anos. Assim, tiraria o documento pelo Brasil e vestiria
verde e amarelo nas competições internacionais. No que depender dele,
apesar da dúvida inicial, esse é o caminho natural.
-
Ihhhh, eu não sei... Hummmm, quero representar o Brasil. Meu sonho é
ser um atleta profissional de snowboard e chegar nas Olimpíadas e nos
X-Games. Para o pessoal da Argentina é estranho ver um brasileiro
vencendo as competições lá. Eu não presto muita atenção nessas coisas. O
meu negócio é competir, já tenho uma disciplina de atleta de slopstyle.
Gosto dele e do big air, mas gosto de tudo e meu sonho é disputar uma
Olimpíada de Inverno pelo Brasil - garante Augustinho, que pretende
virar profissional aos 15 anos.
Augustinho Teixeira prepara a própria prancha antes de descer no slalom (Foto: Thierry Gozzer)
O
irmão João vai pelo mesmo caminho. Tem muito talento e já foi avisado
pela CBDN que deve seguir os treinos visando seu aperfeiçoamento.
-
Também quero ser profissional. Gosto muito do snowboard. Ando há três
anos e compito também há dois anos. Gosto das três modalidades e prefiro
esse esporte ao futebol. Como meu irmão, quero representar o Brasil -
diz o pequeno João, de 9 anos.
nova safra de atletas chegando
Keoni
Rennó é praticamente do tamanho da sua prancha. A jaqueta para conter o
frio da montanha o esconde completamente. O colete que identifica cada
competidor é maior que ele. Mesmo assim, o paulistinha de 4 anos de
Ubatuba participou da prova de slalom do Campeonato Brasileiro amador de
snowboard e arrancou aplausos para delírio do pai José Rennó, 54 anos,
ex-surfista profissional. O garotinho de sorriso fácil é o maior exemplo
de uma nova geração que, ao contrário da primeira safra de snowboarders
do Brasil, começou cedo no esporte.
Keoni descendo a montanha no prova do slalom no Campeonato Brasileiro de snowboard (Foto: Thierry Gozzer)
A
disputa em Corralco contou com uma dezena de garotos e garotas entre 4 e
13 anos. É neles que a CBDN aposta. O Campeonato Brasileiro é disputado
desde 1995, mas nos primórdios era quase impossível a presença de
crianças. Só adultos competiam, e a grande maioria tinha outra ocupação,
usando o snowboard como hobby. Hoje, os filhos dos "dinossauros da
neve" repetem o que já aconteceu com o surfe anos atrás e que resultou
na revelação da Brazilian Storm com Gabriel Medina, Filipe Toledo &
Cia.
- O snowboard está repetindo o que já aconteceu com o surfe.
Nós já éramos velhos quando começamos no esporte. Nos Estados Unidos,
você está na segunda geração de filhos de snowboarders. Essa é a nossa
primeira geração. Eles começaram a praticar bem mais cedo e a competir
também. O surfe está na primeira geração de filhos, com o Gabriel
Medina, por exemplo. Esses meninos de agora com certeza terão resultados
muitos melhores do que tivemos - diz José Rennó, que também tem o filho
Kailani, de 11 anos, no Campeonato Brasileiro.
Crianças também encararam a prova de boardercross (Foto: Thierry Gozzer)
CEO
da CBDN, Pedro Cavazzoni explica que a entidade tem projetos de médio e
longo prazo para a nova geração de atletas do snowboard, conseguindo
técnicos, planilhas de treino e inclusive ajuda financeira para os que
mais se destacarem.
- Mapeamos tudo que um atleta precisa fazer
em várias idades ao longo da carreira em termos técnicos, físicos, as
competições que ele precisa participar, os resultados que precisa
conquistar para mostrar que está indo no caminho certo de ser um atleta
de ponta. Vamos facilitar nesse caminho. Se não temos um treinador no
Brasil, podemos ajudar com outras federações amigas. Se o menino é bom,
tem talento e tem vontade de seguir no esporte, vamos ajudar para que
ele evolua e não fique batendo cabeça sem sair do lugar. Até em relação
financeira. Seria um auxílio estrutural, mostrando o que deve ser feito e
os resultados sendo alcançados, auxílio financeiro também.
No
último domingo e segunda, na estação de Corralco, no Chile, Augustinho
Teixeira (infantil), João Teixeira (mirim), Kailani Rennó (pré-mirim) e
Sofia Maio (pré-mirim) foram campeões brasileiros de snowboard cross,
slalom gigante e big air (este último não teve disputa de pré-mirim).
Fonte: http://globoesporte.globo.com.br